segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cadê o jornalismo investigativo na moda?

Não, esse post não é um post para polemizar, muito menos para responder. É só para jogar no ar uma pergunta que eu tenho e duvido do fundo do meu coração que eu seja a única.

Para quem acha que essa é uma modalidade fútil da comunicação já pode parar de ler aqui. Desisti de convencer que moda é algo que todo mundo pratica todos os dias. E esse é o grande motivo das pessoas se preocuparem: é um hábito. Assim como escolher se vai comer sal ou não; se pega trânsito de ônibus, ou chega rápido num metrô apertado.

Estou em vias de colocar a mão no diploma de jornalista e a principal questão que aprendi nessa grande faculdade do senso comum é que o papel desse profissional é apurar e investigar até o fim. Investigação é a última coisa que eu vejo em jornalismo de moda.

Quem faz os casacos baratinhos de boa qualidade Made in Cambodia? O que foi, você não tem o hábito de ler suas etiquetas? Para chegar até o seu armário qualquer peça passou por um longo processo e talvez tenha viajado mais quilômetros que muitas pessoas sequer sonham em realizar em uma excursão. Diferente do que pensamos em nossas cabecinhas preconceituosas não são crianças escravas, mas existe uma relação de exploração à pobreza aliada a uma melhoria de vida local. Uma relação complexa que seriam necessários meses de apuração precisa para se diagnosticar o que acontece.



E os entremeios do império Daslu, alguma matéria já fez você pensar sobre ao invés de apenas fazer desejar entrar nela? Uma loja não está locada numa realidade paralela, com leis próprias onde só o glamour, prosecco e Hebe importam. Mesmo que o jornalismo das grandes redes tenham denunciado dezenas de práticas ilícitas não existe uma linha de repercussão na editoria que lida diretamente com a marca. A filha de um político importante, de um dos partidos mais fortes do país que até presidente já tentou ser, é uma daluzete. Isso não significa nada?

Não torçam o nariz achando que isso é política, economia, ou questão social e não tem nada a ver com a gente. Os analistas e pesquisadores de comunicação mais inteligentes e respeitados do mundo apontam para um jornalismo que não enxerga limites, que sabe ver além das linhas de uma “editoria”.

Porque essas informações importam tanto quanto saber se preferimos gola v ou canoa. Comprar uma roupa é uma escolha muito maior do que parece.