quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cota na passarela, que lá vem ela

Como semi-negra (as pessoas dos movimentos negros já me odeiam por esse semi) e sonho-de-modelo-frustado eu não poderia ignorar o assunto cota nas passarelas.

Eu sempre fui radicalmente contra cotas que levassem em conta a cor das pessoas. Pra mim a cor sempre foi um detalhe e sempre foram muitas. Existem pessoas muito brancas de cabelos ruivos, pretos e loiros. Existem pessoas com a pele muito escura, tão escura que elas parecem ter um brilho diferente. Tem pessoas que tem cor de burro quando foge. Existem branquinhos de sardinhas, morenas de sardinhas. Tem gente meio vermelha, meio rosinha.

Sempre que vejo a implementação de cotas coloridas fico confusa e fico triste também.
Triste por ver todas as tonalidades lindas dos seres humanos serem separadas em negros e brancos, como se voltássemos à época das películas que não captavam cores e o mundo era um grande lugar monocromático.
Fico triste por perceber que as tonalidades mais escuras precisam de políticas que exijam sua presença, senão elas não são lembradas.

É preciso que o negro (vou usar esse termo óbvio por ser mais fácil) deixe de ser O negro e passe a ser só mais uma pessoa. É realmente complicado ser uma menininha de 4 anos e nunca ser a princesinha da festa de fim de ano por não ser loira de olhos azuis. Eu nunca fui o "Alecrim dourado" no jardim de infância, sempre sobrei para ser um capim figurante. A criança não entende que é uma questão cultural, construída a séculos na sociedade. Só dói.
Negros sempre tomaram banho, usaram xampu e hidratante. Não passaram a fazer isso só quando lançaram produtos específicos para o seu tom de pele (que foi quando eles apareceram nas propagandas) .

E a resposta a tudo isso vai ser o quê? Colocar cotas? Será que essa convivência forçada vai fazer que se acostume a ver a beleza dessas modelos além da cor? Aí, daqui a um tempo, podemos tirar essa imposição tola e as pessoas já vão estar acostumadas a usar a paleta infinita de cores existentes no planeta?

Aqui alguns depoimentos de modelos negras para a revista Serafina

Anabela Ferreira: "Acho positivo e espero que sirva de incentivo para outras profissões"

Janaína Santos: " Por um lado acho uma besteira. As marcas têm que dar oportunidade pelo nosso potencial e não pela nossa cor. Mas, como isso não acontece, acho que as cotas vão obrigar as pesoas a perceberem que podemos trabalhar tão bem quanto os brancos."

Lays Silva: "Quando fiquei sabendo, achei engraçado. É para a gente ver como ainda existe preconceito. Alguém tem que criar uma lei para podermos trabalhar. O lado bom é que vai obrigar o mercado a olhar para nós."

Gracie Carvalho: "Agora que existe, acho que é uma oportunidade. Mas é chato você desfilar só porque há essa necessidade dos 10% de negros no casting. Estar lá por uma obrigação da marca não é legal."

Samira Carvalho: "Acho válido pela inclusão que pode proporcionar."






P.s: Uso o semi porque sou filha de uma mãe negra e um pai branco. Não vou renegar nenhuma das metades da minha genética.

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